Por que o mercado global de chips preocupa a indústria eletroeletrônica

Estoques mundiais em alta e dúvidas sobre a economia chinesa estão entre os motivos

Crédito de imagem: Vishnu Mohanan na Unsplash

A indústria eletroeletrônica tem um desafio no curto prazo  quando se trata do fornecimento de semicondutores.

É que dez dos maiores fabricantes de chips do mundo já avisaram que os novos investimentos devem ser reduzidos em 16% só neste 2023 (leia aqui conteúdo relacionado do jornal Valor).

Com menos aportes, a oferta também tende a ser menor. E isso pode afetar de pronto boa parte das empresas de 12 setores representados pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)

Mas qual o motivo dos fabricantes reduzirem os aportes?

Em linhas gerais, a queda reflete os estoques globais altos de alguns tipos de chips, principalmente os voltados para processadores - que são essenciais para computadores - e para celulares smartphones.

O mercado está abastado desses componentes por conta da corrida da indústria produtora frente às tensões entre Estados Unidos e China no que diz respeito a tecnologia. Diante da situação, os fabricantes turbinaram as produções.  

Daí veio o contraponto: as vendas de computadores, para ficar em um exemplo de segmento que depende de chips, descem ladeira abaixo.

Apenas no primeiro trimestre deste ano, a comercialização global de computadores pessoais (PCs) caiu 29% ante igual período de 2022, relata a IDC, empresa de pesquisa de mercado, à Forbes (leia aqui).

Não é só.

Tem mais um dado que reforça o desinvestimento pelos produtores de semicondutores.

O nome desse dado é a economia da China.

Até então motor do crescimento global, o gigante país asiático vive uma desaceleração econômica e ninguém se arrisca a apontar quando virá a luz do fim do túnel (leia aqui sobre o assunto).

Não custa lembrar que além de fonte produtora de semicondutores, a China, com 1,4 bilhão de habitantes, também é um gigante consumidor.

Dupla preocupação

Para a indústria eletroeletrônica brasileira, a situação econômica da China preocupa pela possível instabilidade na oferta de semicondutores.

Essa preocupação cai como pedra quando o Brasil entra, enfim, na tão esperada 5G e em tecnologias atreladas como a Internet das Coisas (IoT), que turbinam a Indústria 4.0 e necessitam de chips.

No caso, a oferta de fabricantes chineses de semicondutores ajuda a balizar os preços no mercado internacional, que tem os EUA como expressivo produtor.

Mas tem aí outro temor: é a de que a queda no consumo chinês também possa também afetar as exportações brasileiras.

Para se ter ideia, em 2022 o país asiático respondeu sozinho por 51% das aquisições da indústria brasileira eletroeletrônica, segundo relata a Abinee.

Assim, qualquer redução de consumo chinesa tende a impactar de uma forma ou de outra na indústria do Brasil. 

E a produção nacional de chips?

Ela é expressiva e, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (ABISEMI), soma por ano 200 milhões de chips (leia aqui).

Segundo a entidade, a indústria brasileira do setor é voltada especialmente ao segmento de memórias, que abastece, entre outras, a indústria de smartphones, laptops, servidores, respondendo por 9% da demanda nacional por semicondutores.

Em resumo, a indústria precisa de chips fabricados lá fora. 

Sondagem aponta expectativas

O corte nos investimentos de fabricantes de semicondutores cai como raio para a indústria eletroeletrônica brasileira.

É que na Sondagem de Conjuntura de junho da Abinee, para 55% das empresas do setor o abastecimento de semicondutores voltaria à normalidade até o fim deste ano.

Conforme o documento, para 29% das empresas do setor a situação só voltará ao normal em 2024, enquanto que para outros 13% não há qualquer previsão para o fim do problema. 

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É bem possível que a Conjuntura de julho - não divulgada enquanto este conteúdo foi produzido - traga novas projeções da indústria.

Mas um fato é atestado pelo documento da Abinee: junho foi o terceiro mês seguido de queda no número de empresas com dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas, o que inclui semicondutores.

Ou seja, enquanto em dezembro último 40% das empresas tinham dificuldades para adquirir o material, esse percentual recuou para 37% em abril, para 29% em maio e, enfim, para 28% em junho. 

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