Cortes, riscos de desinvestimentos: o que acontece com as fontes renováveis de energia? 

Cortes, riscos de desinvestimentos: o que acontece com as fontes renováveis de energia? 

Geradoras eólicas e solares enfrentam problemas que, por sua vez, repercutem junto a fornecedores do setor de energia que estão na FIEE

 

Imagem: Wolfgang Weiser na Unsplash   /   Delcy Mac Cruz 

Eólicas (vento), fotovoltaicas (sol), hidráulicas (água) e biomassa seguem líderes quando se trata de fontes renováveis de energia elétrica.

Na tarde do dia 17 de junho, por exemplo, o balanço de carga (montante de energia) do Operador Nacional do Sistema (ONS) - encarregado da gestão - mostrava o peso dessas renováveis.

Hidráulica, que é tradicionalmente a líder, seguia no primeiro lugar do ‘ranking’ com 47,3% do total de megawatts-médios (MWm).

Em segundo vem a eólica, com 23,9%; em terceiro a solar (15,9%) e, em quarto, a térmica (que inclui a biomassa de cana-de-açúcar), com 11%.

 

Ranking de carga de energia, segundo o ONS:

Sem céu de brigadeiro

 

No entanto, o raio-x da carga não reflete o céu de brigadeiro das fontes renováveis de energia.

O problema é que as fontes solar e eólica têm crescido a oferta de energia, até acima da demanda, e parte dessa geração foi cortada.

Esse corte, que atende o nome de curtailment, é adotado por exemplo no Nordeste, onde fica a maioria das geradoras solares e eólicas, como forma de desafogar o sistema de transmissão e evitar que ele fique estrangulado - e possa gerar problemas por ter energia acima do suportado.

O ONS informa que em abril iniciou estudo para aprimorar o limite de intercâmbio da energia gerada pelo Nordeste para o Sudeste do país.

Os resultados desse estudo são aguardados com ansiedade no setor produtivo de renováveis, o que inclui empresas fornecedoras de energia e que são expositoras da FIEE (Feira Internacional da Indústria Elétrica, Eletrônica, Energia, Automação e Conectividade), que será realizada entre os dias 9 e 12 de setembro no São Paulo Expo, na capital paulista.

 

 

Prejuízos

Mas enquanto não há solução, as geradoras enfrentam problemas. Um deles é o impacto financeiro decorrente dos cortes de geração.

Para piorar, há normativas da Aneel - agência reguladora de energia - sobre os cortes renováveis que esvaziaram o direito de ressarcimento então garantido por lei.

A questão é que enquanto as renováveis cobram o pagamento pelo corte de energia, o ressarcimento é total para as usinas fósseis, movidas a óleo combustível e óleo diesel.

“Além do desperdício e dos prejuízos aos geradores que acreditaram no Brasil, a baixa transparência na execução e classificação desses cortes inviabiliza uma auditoria adequada. A regulação e a operação do sistema elétrico criaram um ambiente de insegurança e elevada percepção de risco em relação aos cortes renováveis”, destaca conteúdo do portal Terra.

 

Risco

Em reunião no começo de maio com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o Vice-Presidente de Geração Centralizada da ABSOLAR, Ricardo Barros, alertou sobre o risco de desinvestimento e pediu definição de cronograma para tratar do passivo (leia mais a respeito aqui).

Já em fevereiro, antes do pico dos problemas, o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, em entrevista ao Valor, destacava que o grande problema são os cortes de geração renovável, ou “curtailment”, causados pela superprodução de energia, que impede que empreendimentos cumpram seus contratos e vendam a energia gerada.

Enfim, resta torcer por um final feliz para um setor - o de energias de fontes renováveis - tão estratégico para o Brasil.