Após crescer em 2024, indústria de transformação enfrenta desafios para seguir em alta
Após crescer em 2024, indústria de transformação enfrenta desafios para seguir em alta
Incertezas no Brasil e no exterior são obstáculos, destaca estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI)
Imagem: Alphacolor na Unsplash / Delcy Mac Cruz
Estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) destaca o crescimento da indústria de transformação em 2024.
No ano passado, o avanço do segmento foi de 6,6% puxado pelo complexo eletrônico (14%).
A questão é manter a produção em alta já que, conforme a instituição, incertezas no Brasil e no exterior são obstáculos neste 2025.
Como foi o crescimento
Em 2024, a produção da indústria de transformação avançou +3,7%, superando o desempenho da indústria geral (+3,1%), que inclui também as atividades extrativas.
“Foi um crescimento robusto o suficiente para mais do que anular os recuos dos dois anos anteriores”, destaca o IEDI.
“Esta é uma performance digna de nota, já que não há exemplos semelhantes na última década.”
A expansão entre 2017 e 2019 não foi sequer capaz de recompor a perda de 2016, quanto mais do triênio de crise 2014-2016.
Em 2021, a recuperação do setor também não conseguiu compensar o impacto negativo da Covid-19 em 2020.
Motivo da evolução
A evolução está muito relacionada:
à fase de redução das taxas de juros, ao menos até meados de 2024,
aumento do crédito,
expansão do emprego e
programas de transferência de renda – segundo a intensidade tecnológica dos ramos industriais.
Metodologia
A indústria de transformação possui atividades em quatro grupos: alta, média-alta, média e média-baixa tecnologia.
Todos esses grupos cresceram em 2024.
Detalhe: o crescimento foi difundido segundo o critério da intensidade tecnológica.
Entre os maiores reveses está a indústria de alta tecnologia, cuja produção encolheu por 5 anos consecutivos e agora em 2024 registrou +6,6%.
Foi o segundo melhor resultado entre os grupos e não muito distante do líder, a indústria de média-alta tecnologia, que cresceu +6,9%.
Além disso, estas duas indústrias de maior intensidade tecnológica, ajudadas por bases de comparação mais modestas, registraram um vigor ainda maior no último trimestre de 2024: +15,6% no caso da alta tecnologia e +12,1% no caso da média-alta.
Obstáculos
A alta da taxa básica de juros, a Selic, à medida que é repassada para as outras taxas de juros da economia, enfraquece a demanda de muitos dos mercados que são atendidos por estes grupos da indústria.
Possíveis reflexos
A alta e a média-alta congregam muitos ramos sensíveis aos níveis de juros.
Os maiores avanços nestes grupos, por exemplo, vieram do
complexo eletrônico (+14,7%), na alta tecnologia, e de
veículos (+12,5%) e máquinas e aparelhos elétricos (+12,2%) na média-alta, que são bens duráveis de consumo e de investimento.
A média tecnologia também progrediu muito em relação aos anos anteriores.
Depois de ter caído em 2022-2023, registrou alta de +2,9% no ano passado, puxada pela produção de borracha e plástico (+5,1%) e minerais não metálicos (+3,9%), ambos influenciados pelo dinamismo da construção, cuja demanda também é sensível aos juros.
No 4º trim/24 foi outro grupo que ganhou velocidade, registrando +5,9%.
O grupo que evoluiu mais modestamente em 2024 foi a indústria de média-baixa tecnologia. Teve expansão de +2,2% de sua produção, isto é, praticamente na mesma velocidade do que em 2023 (+2,3%).
Alta tecnologia segue com gap
É a alta tecnologia que ainda está mais longe dos níveis de 2019, segundo o estudo.
O gap é de -5,2%, em boa medida devido ao setor de aviação, cuja queda frente a 2019 é de quase 40%.
O ramo de material de escritório e informática funciona como um mitigador (+15,3%).
Por isso, destaca o material, seria oportuno que o país continuasse garantindo condições de esta parcela da indústria seguir se expandido como ocorreu no ano passado.
Especialmente, diante do aumento das incertezas no âmbito externo, seja pelos conflitos e questões geopolíticas, seja por conta da ameaça de diversas frentes de disputas comerciais ensejadas pela gestão atual dos EUA, tendem a prejudicar o dinamismo do comércio global e acirrar a concorrência, com destaque para ramos de maior intensidade tecnológica.