Como o mercado de energia deverá se comportar nos próximos meses

Como o mercado de energia deverá se comportar nos próximos meses

Preços, falta de chuvas, leilão, armazenagem em baterias são temas que integram webinar promovido pela Abinee, COGEN e pela UNICA

Imagem: UNICA / Delcy Mac Cruz

O mercado de energia elétrica no Brasil vivencia uma série de fatores neste 2025. 

As chuvas de verão foram embora antes do tempo na região Sudeste, há excesso de produção de eletricidade fora do horário de demanda e o setor espera leilão de venda de energia que inclui até a tecnologia BESS (armazenagem em baterias). 

Esses temas integraram o 43º Webinar Abinee, COGEN e UNICA - Mercado de Energia Elétrica e Produção de Biometano, realizado em 30 de abril no auditório da FIESP, na capital paulista, e coordenado por Leonardo Caio, diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen

 

O blog da FIEE acompanhou o evento. 

 

Confira destaques da apresentação de Richard Fazzani, Diretor de Trading da Matrix Energia: 

 

 

O mercado de energia elétrica, segundo a Matriz

O consumidor residencial liderou o consumo de energia elétrica no começo de 2025. Nos dois primeiros meses do ano, as residências foram responsáveis por 30 mil megawatts-hora (MWh), em parte por conta do uso de aparelhos de ar-condicionado. 

 

Preços médios do MWh

Os preços do megawatt-hora (MWh) seguiram tendência de alta em 2025 por conta justamente do maior consumo de eletricidade. 

Com teto de R$ 800 o MWh, os preços médios têm ficado em R$ 400 o MWh no primeiro quadrimestre de 2025. 

 

Demanda deve seguir em alta

Em média, a demanda de energia no verão de 2025 foi de 106 gigawatts, podendo chegar a 110 GW em 2026. Isso trará mais volatilidade e mais oportunidades para a eletricidade de biomassa.

 

Previsões de chuvas nos próximos meses

O mercado deverá ter volatilidade nos próximos meses por conta da previsão de padrão de chuvas abaixo da média para o subsistema Sul. 

 

Perspectivas de armazenamento

O armazenamento das hidrelétricas seguem bons, mas em caso de pico de consumo no inverno, essa armazenagem deverá ser logo absorvida.

 

Futuro leilão pode integrar energia de biomassa em baterias

Zilmar Souza

Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da UNICA, aproveita a palestra para questionar: “O esperado leilão que também integra o armazenamento de energia, usando Bess (armazenagem em baterias), pode ser uma oportunidade para a eletricidade de biomassa de cana?”

 

Richard Fazzani

Richard Fazzani: “Acreditamos que o leilão deva ocorrer neste ano, faltando detalhes para que seja viabilizado. 

Como a eólica, solar e biomassa, a instalação de baterias pode auxiliar esses leilões, aproveitando energia não gerada para otimizar o portfólio. 

Dependendo do momento da produção, a empresa pode gerar mais energia e, se não for no pico, pode não ser interessante. Na medida em que armazena essa energia em baterias, e participar do leilão, poderá entregar essa energia no momento de maior demanda. 

 

Roberto Barbieri

“Se não houver chuva, teremos situação crítica?”, questiona Roberto Barbieri, assessor da Coordenação Abinee.

 

Richard Fazzani: “Crítica é uma palavra muito forte. O sistema, hoje, tem mais capacidade para entregar. Em 2026, ainda teremos verão forte com carga crescente, mas será preciso leilão de capacidade, que foi adiado, para adequar o aumento de demanda. 

Seguimos dependendo de chuvas, mas o sistema está avesso a riscos. 

Os reservatórios de hidrelétricas estão bons, mas precisam ficar excelentes porque, em caso de calor em inverno, serão consumidos de forma rápida.”



Cogeração em baterias pode reforçar o sistema

Newton Duarte

Newton Duarte, presidente-executivo da Cogen: a cogeração pode fazer uso do armazenamento em baterias (BESS).

“Temos quase 40 GW que saem todas as tardes, dando uma dinâmica de operação no mínimo desafiadora para o sistema. 

De manhã sobra energia e a cogeração poderá guardar essa energia e ajudar o sistema no começo da noite, quando há pico de demanda.”

 

Richard Fazzani: “é preciso pensar em uso melhor da eficiência de geração em baterias (BESS). Hoje, o sistema permite armazenar e injetar a energia no horário em que estiver mais cara. Otimizar isso é preciso ser planejado para que empresas geradoras possam aproveitar essa arbitragem de preços.”

 

Confira destaques da palestra “Produção de biometano a partir da vinhaça”

 

Evandro Barreto

Evandro Barreto, CEO da Union Rhac, empresa do Grupo Panasonic

A empresa trabalha com geração, biogás e biometano. O que é cada um deles: 

 

Empreendimentos da Union Rhac:

Dá para reduzir o custo da produção de biometano em usinas de cana

Jorge Vinicius Neto

Em sua apresentação, Jorge Vinicius Neto, Partner da NovoGas e parceiro da Union Rac, detalhou sobre estratégias do biometano.

Ele apresentou os custos da produção desse gás renovável da Agência Internacional de Energia (IEA): 

 

“Quanto mais tento fazer gás, mais caro ele ficará. Com substrato de valor baixo, produzir gás ficará caro. Daí usar a vinhaça - que já está disponível nas usinas - e reduzir custos de produção para fazer biometano mais em conta.”

 

Como reduzir os custos?

A produção de energia elétrica a partir do biogás já pode entrar em leilão de compra de eletricidade?, questiona Zilmar de Souza.

 

Jorge Vinicius Neto: “Sim, mas será preciso armazenar essa energia feita do gás (biogás). Se for preciso armazenar muita dessa energia, há necessidade de estocagem e será necessário que a usina geradora esteja próxima da rede de energia (para conectar a eletricidade).”

 

Qual o potencial de geração de eletricidade de biogás e de biometano em uma usina?

Jorge Vinicius Neto: “caso usina com capacidade de moagem de 1,5 milhão de toneladas de cana e vá até 2 milhões de toneladas, teria produção de 1,2 mil m3 de gás ou 600 m3 de biometano. Ou 3 milhões de m3 de biometano por ano. 

Em termos de eletricidade a partir do biogás, será uma capacidade instalada de 5 megawatts (MW).” 

 

Roberto Barbieri, assessor de Coordenação da Abinee: “a vinhaça e o biometano podem ser armazenados? 

 

Jorge Vinicius Neto: “o sistema energético brasileiro tem como combinar as fontes. No caso do gás, que tem densidade energética baixa, para armazená-lo, será preciso guardar muita energia. E é difícil estocá-lo. No caso da vinhaça, 97% dela é água, daí ser difícil armazená-la.”



Como cresce o mercado de biometano fora da proximidade de gasodutos?

Se o biometano a partir de biogás de cana estiver vizinho de gasoduto, o seu transporte é eficaz. Mas e se não houver dutos para fazer essa logística?

 

Há a opção de transportar o gás renovável por meio de caminhões. 

 

“Em transporte de biometano por caminhão, em até raio de 150 km o custo desse transporte é competitivo”, Evandro Barreto, CEO da Union Rhac.

 

“O mesmo gás que a usina usa na sua frota, pode comprimir e transportar para outras empresas próximas também consumidoras de gás”, emenda Jorge Vinicius Neto.