Empresas e Fapesp ampliam implantação de centros de pesquisa em engenharia
Objetivo é promover a geração de alto impacto econômico e social por meio da inovação
Delcy Mac Cruz
O Estado de São Paulo sediará nos próximos anos três novos Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs), cujo objetivo é focar a inovação para gerar alto impacto econômico e social.
Tais estruturas ganham forma por meio de parcerias entre empresas privadas e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Inovação do governo estadual.
Além disso, as estruturas têm participação da Academia e, assim, atestam a eficácia de projetos de parcerias entre iniciativa privada, Poder Público e universidades.
Os mais novos desses CPEs foram anunciados no fim de maio em cerimônia de comemoração dos 60 anos de criação da Fapesp.
Na verdade, são três os polos anunciados.
Exemplo de cooperação entre empresas
Com a Embraer e investimento de R$ 48 milhões previsto nos próximos cinco anos, será constituído o Centro de Pesquisa em Engenharia para a Mobilidade Aérea do Futuro (CPE-MAF).
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP), sediará a estrutura, cuja condução caberá a pesquisadores da instituição e da empresa, em parceria com pesquisadores da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
Um dos objetivos do novo centro será desenvolver pesquisas sobre tópicos inovadores - incluindo manufatura avançada - que tenham potencial para contribuir, em médio e longo prazo, para o aumento da competitividade da indústria aeronáutica nacional.
Foco em desenvolver redes
Já a segunda das estruturas anunciadas é o Centro de Pesquisa Smart Networks and Services for 2030 (Smartness).
Constituído em parceria com a Ericsson e sediado na Unicamp, em Campinas (SP), terá o objetivo de desenvolver pesquisa de ponta em redes de computadores e serviços de aplicações digitais focadas em áreas estratégicas nas quais impactos científicos e tecnológicos podem ser alcançados até 2030.
Com a chegada da quinta geração para redes móveis e de banda larga (5G) e o desenvolvimento do 6G, os principais desafios do novo centro serão projetar e operar infraestruturas de computação em nuvem e rede com capacidade para alavancar a próxima geração de serviços de internet e novas aplicações.
O centro contará com a participação de pesquisadores do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, das universidades de São Paulo (USP), do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e das universidades federais de São Carlos (UFSCar), do ABC (UFABC), do Amazonas (UFAM), do Espírito Santo (UFES), de Goiás (UFG), do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Campina Grande (UFCG), do Ceará (UECE), de Uberlândia (UFU), da Bahia (UFBA), de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Pampa (Unipampa).
O centro contará ainda com a colaboração de pesquisadores da Ericsson Research.
Foco em imuno-oncologia
Já a terceira estrutura anunciada pela Fapesp é o Centro para Pesquisa em Imuno-Oncologia (CRIO), a ser criado com a GlaxoSmithKline (GSK) e sediado no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo.
Objetivo: encontrar novos alvos para imunoterápicos em tumores que não respondem bem aos tratamentos atuais, além de buscar marcadores que possam predizer quais pacientes responderão melhor à imunoterapia.
RETRANCA
Criado em 2012, programa tem 20 centros
O anúncio dos três novos CPEs amplia a estrutura criada pela Fapesp, que já tem parcerias com empresas como a Stellantis, Embrapa, Equinor, Koppert.
“Esse é o maior programa de cooperação em pesquisa entre a Academia e empresas do país”, relata Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp.
Em tempo: oprograma Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) viabiliza sinergias entre a iniciativa privada e o setor acadêmico visando produzir e disseminar pesquisa de nível mundial, com a geração de alto impacto econômico e social por meio da inovação.
Desde a criação do programa, em 2012, foram criados e entraram em operação 20 centros.
Junto com os três novos, eles mobilizarão mais de R$ 1,5 bilhão em atividades de pesquisa nos próximos anos.
“Dessa forma, o montante de R$ 325 milhões alocados pela Fapesp no programa será multiplicado em quase cinco vezes, sublinha, em relato, Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação.
“O CPE constitui um modelo de financiamento à pesquisa que integra o setor empresarial com o acadêmico em um arranjo extremamente eficiente e que a FAPESP, em conjunto com os seus parceiros, vêm aprimorando constantemente”, emenda Mello.
RETRANCA
Avaliações das empresas
Se depender da Embraer, Ericsson e da GLX, os novos Centros nascem sólidos e bem-sucedidos.
Em relato a Fapesp, Kenneth John Gollob, pesquisador do Einstein e coordenador do Centro para Pesquisa em Imuno-Oncologia (CRIO), a ser criado com a GlaxoSmithKline (GSK), destaca: “as imunoterapias têm sido uma nova esperança para muitas pessoas, mas elas trazem pelo menos dois problemas: dependendo do tumor, entre 12% e 60% da população não responde ou tem uma baixa resposta ao tratamento.”
“Outra questão são os efeitos colaterais. Ainda que sejam, em média, muito menos frequentes do que na quimio e radioterapias, uma parte dos pacientes pode ter reações severas que podem levar à suspensão do tratamento”, explica.
Desde maio de 2021, Gollob coordena um projeto apoiado pela Fapesp focado justamente em identificar mecanismos imunes responsáveis pela falha terapêutica ou desenvolvimento de eventos adversos em pacientes com câncer tratados com os chamados inibidores de checkpoints imunológicos.
Com o CRIO, o pesquisador ampliará o escopo do projeto, que tem ainda entre os colaboradores pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e do A.C. Camargo Cancer Center.
“Nossa crença é que juntando essas competências conseguiremos explorar mecanismos e alternativas genéticas para os pacientes que são hoje afetados pelo câncer”, disse André Vivan, presidente da GSK.
Indústria 4.0
Já no caso do Centro de Pesquisa Smart Networks and Services for 2030 (Smartness), constituído em parceria com a Ericsson, Christian Esteve Rothenberg, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp e pesquisador responsável pelo Smartness, destaca à Fapesp: “as áreas de comunicação em rede e de computação de borda são críticas em qualquer sistema de engenharia moderno, como indústria 4.0, internet das coisas [IoT] e inteligência artificial”.
“A infraestrutura das redes precisa ser apta para a computação de modo que os desenvolvedores de aplicações de sistemas finais possam colocar suas aplicações dentro delas”, afirma.
O foco de pesquisa do centro será nas áreas de computação de borda, programabilidade de redes, arquiteturas cognitivas, segurança e sustentabilidade.
Sustentabilidade
Por fim, o Centro de Pesquisa em Engenharia para a Mobilidade Aérea do Futuro (CPE-MAF), a ser constituído em parceria com a Embraer, é aguardado com ansiedade.
“Estamos extremamente honrados com a aprovação do novo centro. Vivemos um momento muito especial dado o imperativo da sustentabilidade e tantas novas tecnologias emergentes. Acreditamos que o nosso CPE será mais um bom exemplo de cooperação entre empresa, governo e Academia e que iremos ajudar a definir o futuro da aviação zero carbono e gerar muito valor para a sociedade”, disse para a Fapesp Luis Carlos Affonso, vice-presidente de engenharia, tecnologia e planejamento estratégico da Embraer.
Os focos de pesquisa no novo centro serão nas área de redução de emissões, sistemas autônomos e projeto e manufatura avançada.
Algumas das linhas de pesquisa em redução de emissões, por exemplo, serão o controle de máquinas para a propulsão elétrica e a integração aeropropulsiva de aeronaves elétricas.
“Ao projetar um avião com propulsão elétrica, em vez de propulsão por motores de combustão interna por turbinas a gás, como o das aeronaves existentes hoje, é preciso adaptar uma série de parâmetros para realizar a integração dos novos propulsores elétricos. Esse desafio será um dos temas de pesquisas que serão realizadas no âmbito do novo centro”, disse à Agência FAPESP Domingos Alves Rade, professor do ITA e pesquisador responsável pelo CPE-MAF.
O centro deverá reunir mais de cem pesquisadores, representando um incremento substancial nos esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embraer, avaliou Luciano José Pedrote dos Santos, engenheiro de desenvolvimento de produto da empresa e vice-diretor do CPE-MAF.
“A Embraer tem um histórico de pesquisa e desenvolvimento pré-competitivo de longa data com universidades e centros de pesquisa. Os projetos que serão desenvolvidos no novo centro fazem parte do arcabouço estratégico dessa área com vistas para o médio e longo prazo”, afirmou.