Ampliar a internet no campo é estratégica para o agro e para a indústria eletroeletrônica
Por Delcy Mac Cruz
Hoje, apenas 30% das propriedades rurais têm algum tipo de acesso à internet, o que impede o uso de equipamentos e serviços de tecnologia de ponta.
Crédito da imagem: Rawpixel/Freepik
A tecnologia de quinta geração, a 5G, completou o primeiro ano de implantação no Brasil em julho último.
“Implementar [essa] tecnologia no país é movimentar negócios em áreas como inteligência artificial, processamento de dados, metaverso, e-commerce, indústria, logística, transporte, saúde, educação e agronegócio”, afirmou o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, em texto comemorativo pela data festiva (leia mais aqui).
Segundo balanço da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em julho o 5G standalone, que é o 5G em sua maior potencialidade, já era realidade em 184 municípios, incluindo aí todas as capitais. No caso de usuários, 10 milhões possuíam, na época, dispositivos compatíveis para usar a tecnologia.
Em relato de maio, a Anatel informa que 1.423 municípios estavam disponíveis para implantação de estações de 5G pelas prestadoras. Uma vez dotadas de estações, essas localidades somam 138 milhões de brasileiros atendidos, ou 64,7% da população (saiba mais aqui).
A torcida por essa implantação íntegra usuários, operadoras e todo o ecossistema de dispositivos, já que a Anatel contabiliza 125 diferentes modelos de celulares prontos para usar 5G.
Torcida pela internet no campo
Fora o mercado de uso pessoal, a torcida pela chegada do 5G também é compartilhada pelo agronegócio, peso-pesado que deve encerrar 2023 responsável por 24,4% do PIB do país, conforme avaliação do Cepea, da Esalq/USP.
No caso do agro, a torcida pela implantação da quinta tecnologia se dá porque apenas 30% das propriedades rurais brasileiras têm acesso à internet em algum nível, seja via satélite, rádio, 3G, 4G ou mesmo 5G.
A informação é de José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), em artigo (leia aqui).
Entre outros ganhos do 5G para o agro, Velloso lista dois:
Dados em tempo real: com eles “as empresas podem personalizar máquinas de acordo com as necessidades específicas dos agricultores, oferecendo soluções sob medida para diferentes tipos de cultivos e condições agrícolas”;
Sensores e conectividade: “permitem a implementação de manutenção preditiva, ajudando a prever falhas e realizar reparos antes que ocorram grandes problemas, reduzindo custos operacionais, além de permitir assistência técnica remota, melhorando a eficiência do suporte ao cliente e, ainda, fornecer uma grande quantidade de dados valiosos.”
Desafios da conectividade
Os benefícios do 5G para o agro vão além dos exemplos acima, e o mercado já disponibiliza bens e serviços, assim como a indústria eletroeletrônica está mais do que pronta para fazer sua parte.
Aliás, essa indústria é estratégica para consolidar a implantação da quinta tecnologia por disponibilizar componentes eletrônicos, bens de informática, geradores, transformadores e motores elétricos, para ficar em alguns exemplos.
Em tempo: vale lembrar que companhias do agro já empregam com êxito tecnologias que exigem conexão eficaz, por meio de investimentos muitos deles próprios em estruturas.
Mas essas entram nos 30% conectados no campo.
Por sua vez, os desafios da conectividade no agro fizeram parte de evento promovido em outubro pela Abimaq e pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Ficou evidente que a falta de cobertura limita o acesso a maquinários mais tecnológicos e já existentes no mercado, e que proporcionam maior eficiência na produção.
Tome o caso da pulverização de defensivos agrícolas, que já pode ser feita por meio de automação.
“Se feita sem nenhum tipo de tecnologia, gera desperdício de 10% a 15% do produto”, disse no evento Pedro Estevão, da Abimaq. “Com a aplicação de automação, essa perda cai para 2%.”
“Quando um agricultor não tem conectividade, ele compra a máquina sem a questão da agricultura 4.0 e isso faz com que ele não tenha a máquina mais apropriada”, afirmou no evento o presidente-executivo da Abimaq em texto do Globo Rural.
O que o governo tem feito?
Em sua participação no evento, Renata Miranda, secretária de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, disse que o Programa Rural + Conectado, iniciativa do Ministério, visa a promoção da conectividade.
Ele objetiva sair dos 30% [de conexão no agro atual] para 48% de cobertura e, a seguir, para 98%, comentou (leia aqui).
Segundo ela, o Ministério da Agricultura trabalha a demanda dentro do governo. “As áreas rurais têm menos densidade demográfica e, por isso, despertam menos interesse comercial das operadoras”, disse. “O papel do Estado, então, é entrar onde o setor privado não tem interesse e cobrir a demanda.”
Como fazer isso?
Renata: o Programa foi dividido basicamente em duas estratégias. Uma fase é para onde há área rural, tem pequena densidade demográfica, baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e seja região em que reside o pequeno produtor.
Normalmente, os moradores estão vinculados a programas de transferência direta de renda. “Nesta primeira fase foi aberta uma parceria junto com o BNDES para uma linha de financiamento e assim levar mais conectividade rural para mais 2,3 mil localidades no Nordeste, com uma cobertura acima de 19 milhões de pessoas”, relatou.
A segunda fase é para um trabalho não reembolsável.
A proposta do Ministério da Agricultura será a apresentação em breve do Projeto Torres Rurais, que visa chegar nesta amplitude de 48% de cobertura, instalando 125 novas torres, revitalizando 550 e fazendo a atualização de 3.200 delas para 4G.
Enfim, no mesmo evento João Martins, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), atesta que a “conectividade é crucial para melhorar a produção e produtividade, promover inovações tecnológicas, auxiliar na preservação do meio ambiente, contribuir para a educação a distância, a segurança no campo e promover a sucessão familiar nas atividades rurais.”
Neste contexto, afirmou, “é preciso levar a internet não apenas à sede das propriedades e às moradias dos trabalhadores, mas também às áreas de produção e às estradas de acesso.”