Como o Brasil - e outros países - planejam estender a rede de pontos de recarga para os veículos elétricos

Crédito da imagem: Pixabay

 

Limitação da oferta de eletropostos desafia o avanço das vendas de modelos movidos a energia elétrica

Os veículos movidos a energia elétrica chegaram para ficar. As vendas mundiais alcançaram 6,75 milhões de unidades em 2021 e representam mais do que o dobro das vendas desses veículos em 2020.

As informações são da plataforma EV-volumes.com, e integram os modelos 100% elétricos e os híbridos plug-in ( que usam um motor a combustão convencional e um motor elétrico movido a bateria para fornecer energia às rodas). 

A tendência é de que as vendas dos elétricos deem salto de crescimento a partir deste 2022. E há vários motivos para tanto: um deles é a retomada econômica mundial com o esperado fim da pandemia de Covid-19.

Outro motivo é o próprio fim da fabricação de motores a combustão nos 27 países da Europa. Segundo a Comissão Europeia, entidade representativa dos interesses do bloco, o plano é que a partir de 2035 apenas sejam comercializados carros novos com propulsão elétrica. 

Em teoria, o plano está sacramentado e o meio ambiente mais do que agradece. 

Mas não é bem assim. 

Fabricantes como a alemã Volkswagen relatam ser impossível eliminar os motores a combustão. Conforme entrevista de janeiro último do CEO da companhia, Herbert Diess, para dar conta de atender ao mercado apenas com elétricos em 2035, seria preciso ter giga-fábricas prontas e em produção já em 2027 - e essa implantação, afirma, é impossível de ser cumprida. 

Há outro empecilho no caminho dos elétricos. 

Seu nome é rede de pontos de recarga. 

Sem esses pontos, não adianta avançar na venda dos modelos a menos que eles fiquem em áreas urbanas e tenham pontos de carregamento. 

Para se ter ideia, até julho de 2021 o Brasil tinha em operação 735 desses eletropostos, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)

O número inclui eletropostos públicos (instalados em parques, ruas e praças) e semipúblicos (os de shoppings, áreas de estacionamento privados, pátios de redes, postos de abastecimento, ou seja, estabelecimentos privados com livre acesso para elétricos ou híbridos plug-in). 

A estimativa não inclui os pontos de recarga de condomínios residenciais ou comerciais particulares, e nem aqueles instalados em concessionárias que só atendem veículos de suas marcas. 

Se esses forem incluídos, dá para estimar em 15 mil os eletropostos no Brasil, em número colhido com especialistas do mercado. 

Pois bem. Caso a estimativa esteja correta, equivale a pouco menos da metade dos eletrificados vendidos no Brasil em 2021. 

Melhor dizendo: foram emplacados entre janeiro e dezembro do ano passado 34.990 automóveis e comerciais leves (furgões) elétricos puros (BEV), híbridos plug-in (PHEV) e híbridos (HEV), relata a ABVE. 

Com isso, a frota eletrificada brasileira em circulação é de 77.259 automóveis e comerciais leves. Não estão incluídas aqui bicicletas e motos elétricas. 

Mas já pensou se todos eles precisarem de recarga de uma só vez?

O desafio avança porque 2022 começou aquecido, com o emplacamento de 2.558 novos modelos em janeiro. 

Vem daí a questão: como ampliar - e rápido - a rede de pontos de recarga? 

Antes de seguir adiante, é preciso lembrar que os eletropostos também são dor-de-cabeça para vários outros países. 

É por isso que a ACEA, a associação europeia de fabricantes de veículos, emitiu em janeiro carta na qual pede a implantação de 1 milhão de pontos de recarga públicos em todos os países do bloco até 2024. 

E pede mais 2 milhões até 2029, destaca o documento, também assinado por entidades de consumidores e de ambientalistas. 

De volta ao Brasil, quais são as ações para ampliar - e urgente - a rede de eletropostos?

Em resumo, essas ações partem de empresas envolvidas direta ou indiretamente ao ecossistema dos eletrificados. 

Veja o caso da Shell, que é sócia da Cosan na sucroenergética Raízen. 

A companhia pretende implantar uma rede de estações de carregamento pelo Estado de São Paulo, relata a Raízen. A meta inclui postos na capital e nas principais rodovias de acesso, com a intenção de se conectar, no futuro, com algumas das principais cidades. 

Inicialmente, a rede é para atender modelos elétricos da Volkswagen previstos para chegar ao país proximamente. Mas ao Energia Que Fala Com Você, a assessoria da Raízen relata que as estações não ficarão restritas a esses modelos. 

Outra player de distribuição de combustíveis, a Vibra (ex-BR Distribuidora), também entrou no ecossistema de eletromobilidade com parceria, anunciada neste fevereiro, com a startup EZVolt, que possui uma das maiores redes de recarga do país. 

Conforme relata, a Vibra pretende atuar na oferta de soluções aos seus clientes e parceiros, integrando a operação de recarga, soluções digitais e fornecimento de energia elétrica a partir de fontes renováveis.

Outro exemplo de iniciativa ligada à expansão de eletropostos é da Neoenergia,holding do grupo espanhol Iberdrola, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro em número de clientes.

Atuante em vários segmentos de energia elétrica, a companhia empreende o denominado Corredor Verde, que, quando concluído, terá 1,1 mil quilômetros de extensão e conectará as capitais Salvador (BA) e Natal (RN), passando pelas cidades de Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE) e João Pessoa (PB). As vias contarão com 18 pontos de abastecimento, conforme divulgação da Neoenergia. 

Os exemplos de empresas comprometidas em ampliar a rede brasileira de pontos de recarga não param de avançar. É de se torcer para que cresçam assim como vem crescendo as vendas de veículos eletrificados. 

Texto por: Delcy Mac Cruz