Data centers: como o Brasil atrai investimentos, mas também impõe gargalos
Data centers: como o Brasil atrai investimentos, mas também impõe gargalos
País tem ingredientes de atratividade, como energia elétrica renovável, mas tem altos custos via carga tributária
Imagem: Serpro / Delcy Mac Cruz
O Brasil entra de vez no cenário global de países atraentes de investimentos em centros de processamento de dados.
Essa atratividade pelos centros - os data centers - atende a pelo menos duas demandas.
Primeira: o país registra vulnerabilidade já que 60% da procura por processamento é atendida por data centers localizados no exterior.
Segunda demanda: os investimentos nessas estruturas no país esbarram nos altos custos locais de processamento.
Tem mais: há, ainda, os problemas regulatórios tributários e de infraestrutura para expansão da oferta de energia elétrica renovável.
Essa energia renovável é requerida para abastecer os data centers, os quais, por sua vez, atendem, como clientes, as big techs.
Os alertas são de Winston Fritsch, empresário, consultor e PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, e de Eduardo Tobias Ruiz, mestre em Agroenergia pela EESP-FGV.
Os dois são autores de artigo no jornal Valor que listam os gargalos para a expansão dos data centers no Brasil.
O blog da FIEE apresenta a seguir destaques do artigo que detalham esses gargalos e o que é preciso fazer para resolvê-los.
Energia renovável
O país é rico em geração de energia renovável (hidráulica, solar, eólica e de biomassa), que supera 60% da oferta.
E globalmente os data centers consomem pouco mais de 1% da eletricidade mundial, com previsão de ir para 2% até 2030 (leia mais aqui).
Diante disso, os investidores nos centros de processamento querem consumir energia renovável, até porque precisam reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) gerados também por eletricidade de fonte fóssil (petróleo, por exemplo).
Como está hoje a situação: há problemas regulatórios tributários e de infraestrutura para a expansão da oferta de geração elétrica renovável com baixa variabilidade horária, ou seja, com disponibilidade garantida.
Como resolver a questão: “com a disponibilidade de energia verde [renovável] é razoável supor que as big techs, clientes dos data centers e que contabilizam ganhos de redução de emissões, se interessassem em fechar contratos de longo prazo no Brasil para atender parte de sua demanda.”
Custos de investimento e de operação
A competitividade dos data centers, segundo os autores do artigo, é medida pelo “total cost of ownership” (custo total da posse, em tradução literal), que depende dos custos de investimento e operação.
“No caso brasileiro, a menor competitividade é resultante, principalmente, do maior custo do investimento (Capex) em data centers de última geração, quando comparado, por exemplo, aos Estados Unidos.”
Carga tributária: na comparação com os EUA, “o Brasil impõe carga tributária - Imposto de Importação (II), IPI, PIS, Cofins e ICMS - que chega a majorar em mais de 70% o valor dos GPUs, processadores, roteadores etc, todos importados, somando cerca de 75% do Capex total.”
Garantir a escalabilidade do investimento
Outro desafio, segundo Fritsch e Ruiz, é garantir a escalabilidade do investimento.
Isso depende de o país atrair de volta a parcela da demanda de processamento de dados brasileira atendida no exterior e, também, a pequena parte da demanda dos grandes usuários globais por serviços de processamento menos sensíveis à latência, em especial o grande uso para “treinamento” de modelos de IA.
Esses podem ser feitos à distância via ligações de fibra óptica e, assim, poderia ser provido remotamente com os “computes” gerados no Brasil com eletricidade renovável.
O que deve ser feito: criar um programa, pelo governo federal, que “garantisse às grandes operações globais o acesso a um pacote de incentivos já existentes para investimentos verdes (por exemplo: REIDI, ECOInvest, emissão de debêntures incentivadas e de infraestrutura, e benefícios da Sudam e Sudene).”
E, naturalmente, que esse programa “implementasse a substancial redução da carga tributária para itens essenciais desses projetos.”
Governo: vem aí política nacional
O Ministério do Desenvolvimento (MDIC) está em vias de lançar a política nacional para data centers, tema que já circulava na Esplanada dos Ministérios desde 2013.
Até a conclusão deste texto, o lançamento não tinha ocorrido, mas ele foca a janela de oportunidades para decisões de investimento para a década de 2030.
“O país precisa aproveitar essa demanda explosiva para incentivar cadeias produtivas de equipamentos nacionais, e não simplesmente comprar chips e insumos que serão montados no país”, disse Cristiane Rauen, diretora de Transformação Digital e Inovação do MDIC, durante sua participação do Seminário Políticas de Comunicações realizado em fevereiro pelo portal Teletime.