Os aliados da indústria para enfrentar a escassez de semicondutores
Por Delcy Mac Cruz
Em 2022, problema só não foi maior por conta da demanda fraca do varejo
Crédito da imagem: Jonas Svidras on Unsplash
A escassez de semicondutores segue sendo um desafio para a indústria nacional. Fruto da pandemia de Covid-19, que interrompeu a produção na China, principal fornecedor mundial, a crise desses componentes não dá trégua.
Que o diga 2022.
“Foi um ano marcado pela crise de semicondutores e matérias-primas, lockdowns na China, guerra na Ucrânia, que prejudicaram as importações de um setor [indústria elétrica e eletrônica] bastante dependente de insumos externos”, relatou Humberto Barbato, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) em evento de confraternização da entidade.
Sondagem da Abinee, feita com 80 empresas, atesta a persistência do problema.
Nada menos do que 61% dos participantes da pesquisa relataram ter problemas na compra de semicondutores (matéria-prima para a confecção de chips) em outubro devido à falta desses itens no mercado.
Para se ter ideia, em setembro esse percentual estava em 48%.
A situação só não é pior porque a indústria dependente de semicondutores - que incluem, entre outros, celulares, computadores, televisores e carros - registra queda de demanda.
Sendo assim, a dificuldade em receber a matéria-prima é amenizada pela menor venda de produtos pelo varejo.
Luzes no fim do túnel
E de agora em diante?
Há luzes no fim do túnel para enfrentar a crise de semicondutores.
Contudo, nem todas devem apresentar respostas positivas no curto prazo.
Veja o caso dos Estados Unidos.
Em novembro, o Congresso americano aprovou a Lei da Ciência e Chips, que prevê mais de US$ 50 bilhões para fortalecer a indústria de chips. Objetivo: tornar o país autossuficiente nesse setor.
De quebra, essa indústria também foca o mercado externo, no qual o Brasil é candidato a importador.
Mas se a ideia é boa, a realidade é outra.
Apesar de 79% dos recursos financeiros serem destinados para a construção de fábricas, essas necessitam estar aptas a produzirem os modelos de última geração. E isso exige investimentos em pesquisa e desenvolvimento no curtíssimo prazo.
Atualmente é vez dos chips 5G, produzidos em fábricas avançadas de semicondutores, as fabs. Essas são de uma complexidade desconcertantes e extremamente caras.
Diante disso, não basta lançar um programa com US$ 50 bilhões porque a nova fronteira tecnológica está à frente dos EUA.
Na China e no Brasil
Tem também a indústria chinesa, que segue na dianteira como fornecedora mundial. Há uma torcida mundial para a regularização da economia chinesa e, assim, a produção avançar em 2023.
O Brasil também empreende iniciativas.
Uma delas foi apresentada em abril em evento promovido pelo Ministério de Relações Exteriores. É o Plano Brasil de Semicondutores, cuja proposta é aumentar a participação do Brasil no mercado mundial de semicondutores de 2% para 4% em prazo de até 20 anos (leia mais a respeito aqui).
No caso, o projeto que cria o Plano Brasil tramita no Congresso Nacional.
No entanto, o Plano pode vigorar por meio de Medida Provisória (MP).
“Esperamos que a MP, que incentiva a produção de semicondutores no Brasil, seja publicada ainda este ano pelo atual governo”, disse o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, em conferência online com jornalistas em 8 de dezembro.
Padis reeditado
Por sua vez, o governo federal sancionou em novembro a Lei 14.302 que prorroga a vigência dos incentivos do Programa de Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis) até 31 de dezembro de 2026.
Em vigor desde 2007, o programa concede incentivos fiscais a indústrias que investem em pesquisa, desenvolvimento e inovação na área de semicondutores, dispositivos primordiais na produção de chips usados em diferentes aparelhos eletrônicos, mas tambeḿ nas mais diversas tecnologias, desde automóveis até sistemas de comunicação (leia mais aqui).
Padis em prática, expectativas pelo Plano Brasil e pelo avanço da produção de semicondutores na China e em outros países, além da fabricação nacional. É com esses aliados que a indústria brasileira entra em 2023.