Por que investir em tecnologias para rede de distribuição de energia é um caminho sem volta   

Por Delcy Mac Cruz

Entre outros ganhos, elas permitem melhoria da qualidade da eletricidade fornecida e evitam os ‘gatos’.

Crédito da imagem:  Sebastián Faune from Pixabay

As redes de distribuição representam a etapa final do sistema de energia elétrica. Junto das subestações, rebaixam as tensões vindas do sistema de transmissão e entregam a eletricidade ao consumidor, seja ele industrial ou residencial. 

São, assim, pra lá de estratégicas ao sistema elétrico. 

Por meio de cabos em via aérea ou subterrânea, essas redes são responsáveis por efetivar a entrega da eletricidade. 

Diante disso, elas, a exemplo dos demais integrantes do sistema elétrico, pedem investimentos que reforcem sua capacidade. 

Vale dizer que tal reforço visa a melhoria do desempenho, a qualidade e eficiência, bem como a segurança dessas centenas de quilômetros de fiação que transportam a eletricidade. 

Segurança, aliás, é um problemão à parte. Tome o exemplo dos roubos de energia. 

São os populares ‘gatos’, chamados de perdas não técnicas no jargão elétrico. 

Eles crescem ano a ano e, em 2021, a Aneel apurou que essas perdas chegaram a 17% de toda a eletricidade de baixa tensão distribuída na região Sudeste do País. E alcançou 47% na região Norte (leia mais aqui). 

Tem aí um detalhe: a diferença de custos entre as metas regulatórias - aquelas reconhecidas nas tarifas - e as perdas reais se torna um prejuízo assumido pelas concessionárias. 

Mas como enfrentar o roubo de energia e ampliar a eficiência e a qualidade das redes de distribuição?

A resposta é investir em tecnologias já disponíveis e que estão chegando ao mercado. 

Aliás, as tecnologias em redes de distribuição integram um dos temas da programação do Fórum AbineeTEC & Arenas do Conhecimento da FIEE, feira com mais de 60 anos no calendário do mercado com soluções e alta tecnologia para a indústria, que será realizada entre os dias 18 a 21 de julho em São Paulo (leia mais a respeito do evento aqui). 

De volta às tecnologias disponíveis, que tal descrever algumas delas? 

Confira: 

Redes inteligentes (smart grids)

O objetivo delas é gerar maior automação e o uso de protocolos de operação dinâmicos, que respondem imediatamente à informação recebida do consumidor final. 

“Elas [permitem] um fluxo biunívoco [vocábulo da Matemática que estabelece correspondência entre dois conjuntos] de energia no sentido em que o próprio consumidor final poderia ser um microgerador de energia ao se conectar na rede, fornecendo energia elétrica para a distribuidora quando conveniente”, relata Andrea Cabello em estudo do Ipea.

“Também [permitem] um fluxo biunívoco de informações, no qual a distribuidora e o consumidor poderiam acompanhar continuamente a evolução do uso de energia e responder em tempo real a qualquer alteração no sistema.”

E finaliza: “além disso, a rede seria dotada de autorrecuperação (self healing) – ou seja, ela teria a capacidade de detectar, analisar e corrigir eventuais problemas, evitando situações extremas como blecautes.”

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Medidores inteligentes

Eles recebem automaticamente informações em tempo real sobre consumo de eletricidade. Com eles, é possível saber quais equipamentos consomem mais energia, quais são os horários de maior consumo, entre outras informações.

Mais: eles permitem à distribuidora de energia ter acesso a diversos dados de consumo e indicadores que permitem a avaliação mais precisa de como a eletricidade está sendo entregue e consumida.  


Blindagem das redes

Em resumo, blindagem da rede objetiva a prevenção aos furtos de energia, que são considerados crimes pelo Código Penal e podem provocar riscos à segurança, além de afetar o fornecimento. 

Há padrões de blindagem que, por exemplo, podem contar com uma elevação da altura em que os equipamentos ficam instalados. Fora isso, cabos implantados têm recursos de isolamento cuja função é impedir ligações externas, evitando, assim, os desvios. 

Investimentos no setor devem crescer 254%

Os exemplos de tecnologias para redes de distribuição tendem a avançar. E, assim como em outros integrantes do setor elétrico, os aportes já são realizados ou estão no radar das distribuidoras. 

Mesmo porque o setor elétrico nacional só cresce no País. 

Basta citar o Plano da Operação Elétrica de Médio Prazo do Sistema Interligado Nacional (PAR/PEL) para o horizonte entre 2023 a 2027. 

Realizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o documento é robusto em números. 

Destaca, por exemplo, que para o ciclo analisado (2023 a 2027) estão estimados R$ 60,7 bilhões em investimentos, alta de 254% sobre o período anterior do mesmo estudo (entre 2022/2026). 

Do montante financeiro, R$ 55,7 bilhões são referentes a novas obras.

Segundo a ONS, integram essa lista a construção de 16 mil quilômetros de novas linhas de transmissão e 34 mil MVA (megavolts ampères) de acréscimo de capacidade de transformação em subestações novas e existentes. 

Mais: esses empreendimentos representam um acréscimo de 10% na extensão das linhas de transmissão em relação à rede existente.

Enfim, se tantos dados robustos do estudo forem de fato efetivados, melhor que o sejam dotados de toda tecnologia disponível.