Como os data centers buscam saídas diante da transição energética
Como os data centers buscam saídas diante da transição energética
Grandes demandantes de eletricidade, empreendimentos apostam em fontes limpas e em tecnologias que reduzem o consumo
Foto: Lightsaber Collection na Unsplash / Delcy Mac Cruz
O avanço de data centers (centros de dados) para dar suporte à demanda de aplicativos de inteligência artificial (IA) é global.
O Brasil entra nesse crescente mercado e, para ficar em um bom exemplo, no começo de setembro foi anunciada no Rio Grande do Sul a construção da Scala Al City, maior empreendimento de infraestrutura digital da América do Sul.
Há bons motivos para otimismo, afinal os investimentos gerados por esses centros de dados reforçam os ganhos econômicos.
Mas há, também, um senão: essas estruturas são altamente consumidoras de energia elétrica.
Mudanças energéticas
E, em tempos globais de transição energética, em que as fontes poluentes devem dar lugar a fontes limpas, os data centers também precisam acompanhar as mudanças.
“Se a eletricidade [que supre estes centros de dados e a IA] for gerada por combustíveis fósseis, há um problema”, alertou em abril deste ano, em entrevista ao jornal Valor, Jens Nielsen, fundador e executivo-chefe da organização não governamental World Climate Foundation.
Segundo ele, o correto é a eletricidade que abastece os data centers ser de fontes limpas ou menos emissoras de gases de efeito estufa na comparação com fontes fósseis.
Entram aí as fontes hidráulicas (hidrelétricas), térmicas a biomassa (cana-de-açúcar e madeira, etc), eólica e fotovoltaica (solar).
Até aí tudo bem, até porque entre 70% e 80% da geração de eletricidade brasileira é de fontes renováveis, destaca o Operador Nacional do Sistema (ONS) em levantamento do dia 24 de setembro.
Geração de energia em 24/09/24
(em megawatts-médios - MWm)
Fonte: ONS / Delcy Mac Cruz
Escassez hídrica
No entanto, nem tudo é céu de brigadeiro mesmo em um país como o Brasil, em que as fontes renováveis são maioria.
Isso porque em consequência do aquecimento global, o país tem registrado recentemente estresse hídrico, ou seja, falta água nos reservatórios das hidrelétricas.
Sendo assim, não é possível garantir que elas sigam produzindo 50% do total de eletricidade gerado no país.
Diante disso, uma das saídas é recorrer ao uso de termelétricas movidas a combustíveis fósseis (óleos diesel e combustível) e mesmo a gás, que também emite bem mais gases de efeito estufa ante as fontes renováveis.
Saídas
Vai daí que os data centers têm pela frente uma barreira de consumo energético.
Há saídas como o mercado livre de energia. Por esse modelo, grandes consumidores podem firmar contratos de compra direto com comercializadoras de eletricidade e, assim, garantir que adquirem megawatts gerados por fontes limpas.
Outra alternativa, embarcada nos projetos de data centers, é eles serem empreendidos com tecnologias focadas na redução do consumo energético.
Exemplos da Scala
É o caso, por exemplo, da Scala Al City, da Scala Data Center.
Para se ter ideia, a capacidade inicial de TI da Scala AI City será de 54 Megawatt (MW), o que é cerca de sete vezes superior à capacidade dos centros de dados atualmente instalados na Grande Porto Alegre e maior do que a de mercados como o da Argentina e do Uruguai, relata texto de Thales Moreira, da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo gaúcho.
Confira a seguir destaques do empreendimento, a ser implantado em uma área estratégica em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Escolha - A escolha do local, segundo o texto da Secom, se deve à sua segurança comprovada em relação a desastres naturais (inclusive diante de eventos climáticos), à abundante oferta de energia elétrica e à capacidade imobiliária que permite uma expansão contínua por décadas.
Treinamento de IA - O projeto utiliza o design FutureProof, permitindo a instalação de racks que suportam cargas de trabalho intensivas em treinamento de IA, com capacidades crescentes e superiores a 150 Kilowatt (kW), em contraste com os 20 kW ou menos voltados para outros usos.
Resfriamento - O sistema também prevê o uso de liquid cooling — um método de resfriamento por fluido refrigerante que oferece maior eficiência energética para esse tipo de aplicação.
Pilar central - A sustentabilidade será um pilar central do empreendimento, que contará com 100% de energia renovável e certificada e adotará tecnologias de ponta para minimizar seu impacto ambiental.
Medidor de eficiência - Com o auxílio do clima mais ameno do sul do Brasil, os data centers serão mais eficientes e terão um PUE (Power Usage Effectiveness, que mede a eficiência energética) não superior a 1.2, o mais baixo da América Latina, e um WUE (Water Usage Effectiveness) de zero – ou seja, não utilizarão troca de água em seus sistemas de refrigeração.
Como o governo atua a respeito
Em divulgação, o Ministério de Minas e Energia (MME) relata realizar estudos de planejamento com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para atender o crescimento de consumo de energia previsto pelos data centers.
É preciso mesmo pressa nesse planejamento até porque, conforme o próprio MME, em maio último 12 projetos de data centers pediam acesso à rede de transmissão de energia elétrica.