Por que a indústria tem a ganhar com tecnologia que permite estocar eletricidade em baterias
Por Delcy Mac Cruz
Conhecida pela sigla Bess, ela permite redução de custos na conta de luz e garante o suprimento
Crédito da imagem: Enrique Meseguer from Pixabay
A autoprodução de energia elétrica é um caminho sem volta também nas empresas industriais. Gerar a própria energia, por meio de concessão ou autorização, é estratégica, também, para garantir o suprimento e reduzir os custos das tarifas.
Até aí, nada de novo. Ocorre que junto à autoprodução começa a crescer no país outra tendência: a tecnologia de estocar eletricidade em conjunto de baterias para usá-la em horários, como os de pico, nos quais o custo da conta das distribuidoras dispara.
Conhecida pela sigla Bess, de Battery Energy Storage System, a tecnologia vem a calhar principalmente para autoprodutores de energias renováveis. É o caso da fotovoltaica (solar) e da eólica.
Tanto uma como outra dependem, cada qual, da oferta da fonte. Só há produção se houver sol ou vento. É aí que a tecnologia Bess cai como luva: permite estocar a energia para ser usada depois, quando não há nem uma e nem outra matéria-prima.
Sendo assim, a Bess entra em cena para garantir a operação do sistema elétrico já que também pode ser empregada pelas geradoras como as hidrelétricas, que podem estocar energia caso haja escassez de água nas usinas e a produção seja interrompida.
Mas como está o ritmo de implantação do armazenamento de energia em baterias no Brasil?
Em síntese, o mercado já disponibiliza de equipamentos e mesmo de implantações.
Por falar em implantações, o primeiro sistema de armazenamento de energia em baterias em larga escala do sistema de transmissão brasileiro foi inaugurado em março deste ano no município de Registro (SP).
Projeto da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (ISA CTEEP), ele atua como um reforço à rede elétrica. A finalidade é a de evitar interrupções no fornecimento.
A estrutura possui potência instalada de 30 megawatts (MW), suficientes para entregar 60 MWh por duas horas, beneficiando 2 milhões de consumidores do litoral Sul do estado de São Paulo em momentos de pico. Leia mais a respeito aqui.
Em tempo: o sistema de armazenamento também promove ganhos ambientais. No caso de Registro, estocar energia em baterias evita o acionamento de geradores a diesel, então empregados em caso de necessidade.
Segundo cálculos da ISA CTEEP, em dois anos a tecnologia evitará a emissão de 1.194 toneladas de gases de efeito estufa (GEEs) (leia mais aqui).
Desafios
A tecnologia Bess tem desafios para avançar no país. Um deles é o ainda alto custo da bateria.
Em levantamento de 2021, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, relata que o preço de referência era de R$ 4 mil pelo kilowatt-hora (kWh). O valor, no entanto, deve cair para R$ 1,7 mi/kWh em 2030.
A queda será puxada pela crescente demanda global dos veículos elétricos, que reflete na redução dos custos das baterias.
A EPE destaca no estudo que “a desoneração de tributos nacionais poderia levar a preços ainda menores.”
Tem outro nó: a tecnologia não conta com regulamentação. Sendo assim, faltam regras para que ela seja utilizada pelo setor elétrico.
Há, ainda, outro nó a ser desatado: oficializar a destinação final das baterias.
Fornecedores investem
Enquanto isso, o mercado de Bess avança em consolidação no país.
Do lado dos fornecedores, por exemplo, os investimentos estão em ritmo acelerado.
Veja o caso do ESSW da WEG: sistema de armazenamento e gerenciamento de energia que, relata a empresa, pode ser configurado para desempenhar inúmeras funções que vão da redução de intermitência de fontes de geração renováveis à execução de serviços necessários em subestações de energia.
Já a Moura oferece a solução Moura Bess: “ideal para a redução dos custos com energia de operações comerciais, industriais e agrícolas, além de um importante ativo para otimizar operações de geração, transmissão e distribuição de energia.”
Como se vê, as soluções Bess avançam no mercado brasileiro de energia armazenada que tende a dar saltos de crescimento em países que investem firme na tecnologia, caso da China, EUA, Alemanha e Reino Unido.