Estocagem de eletricidade em baterias: por que essa tecnologia tende a crescer no Brasil
Por Delcy Mac Cruz
Armazenagem oferece garantia de oferta em caso de demanda de energia em alta com geração oscilante
Crédito da imagem: Federico Beccari na Unsplash
Estocar eletricidade em baterias para ser usada em horários de pico, nos quais o custo da conta fica mais caro, ajuda a justificar o investimento nessa tecnologia principalmente por grandes consumidores, caso da indústria eletroeletrônica.
Mas além de reduzir o valor da conta nos horários de pico, esse armazenamento, conhecido pela tecnologia Bess, de Battery Energy Storage System, tem outra missão: oferecer segurança de oferta diante da crescente demanda por eletricidade.
Por conta da onda de calor de setembro, o consumo de energia no país encerrou o mês com 68,3 mil megawatts-médios (MWm), volume 6,2% acima do mesmo período de 2022, segundo levantamento da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Geração de energia tem altos e baixos
Pois em setembro as hidrelétricas, que respondem pela fonte hidráulica, a principal entre as fontes geradoras, produziram 5,2% mais energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Em contrapartida, a CCEE informa que as termelétricas, terceira maior fonte geradora, entregaram 3,3% menos ante igual período de 2022.
De seu lado, os parques eólicos, segunda maior fonte de geração, tiveram leve aumento de 0,1% na oferta, enquanto as fazendas solares ofertaram 57% mais, embora elas representem a menor geração do ranking.
Geração de energia em setembro, segundo a CCEE
(em megawatts-médios - MWm):
Alternativa diante dúvidas de geração
Como a onda de calor também avança em outubro, é preciso torcer para que a geração siga dando conta do recado da demanda.
É aí que a armazenagem em baterias surge como alternativa.
A Bess entra em cena para garantir a operação do sistema elétrico já que também pode ser empregada pelas geradoras como as hidrelétricas, que podem estocar energia caso haja escassez de água nas usinas e a produção seja interrompida.
Tudo bem.
Mas e como está o mercado de Bess no Brasil?
O primeiro sistema de armazenamento de energia em baterias em larga escala do sistema de transmissão brasileiro foi inaugurado em março deste ano no município de Registro (SP).
Projeto da colombiana Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (ISA CTEEP), ele atua como um reforço à rede elétrica. A finalidade é a de evitar interrupções no fornecimento.
A estrutura possui potência instalada de 30 megawatts (MW), suficientes para entregar 60 MWh por duas horas, beneficiando 2 milhões de consumidores do litoral Sul do estado de São Paulo em momentos de pico. Leia mais a respeito aqui.
Mercado livre amplia fornecedores
Assim como a ISA CTEEP, outras empresas entram no mercado de Bess.
É o caso da Enerzee, que junto com a WEG, oferece baterias para o armazenamento de energia com foco nos clientes do mercado livre, que está aberto para todos os consumidores de alta tensão (Grupo A).
Esse grupo é atendido por tensão igual ou superior a 230 kilowatts (kV), caso das grandes indústrias.
Por isso dos 119.360 megawatts-médios (MWm) transacionados em setembro no mercado livre, 90% deles foram para consumidores industriais, relata a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia Elétrica (Abraceel).
Fora o consumo em alta, o consumidor industrial do Grupo A tende a ser beneficiado com a Bess caso também produza eletricidade a partir de fontes renováveis.
Melhor dizendo: como ele tem a capacidade de gerenciar e armazenar energia, pode negociar contratos mais favoráveis com no mercado livre, com economias adicionais.
Esses benefícios poderão ser obtidos já em 2024, quando os consumidores de alta tensão estarão livres para comprar energia de qualquer comercializador que não seja a distribuidora, com direito a negociação de preços.
Enfim, a tecnologia Bess tende a avançar no Brasil também pelo viés de sustentabilidade ambiental, uma vez que maximiza o uso de energia renovável.
Exemplo: ao armazenar e usar a energia solar gerada pelos sistemas fotovoltaicos, cai a dependência de fontes não renováveis, caso dos combustíveis fósseis, caindo, assim, as emissões de gases de efeito estufa.
RETRANCA
Mercado de Bess deve crescer 84%
O mercado de armazenamento de energia em escala no país deve crescer 84% até 2030, aponta estudo da consultoria A&M Infra, que projeta investimentos da ordem de R$ 20 bilhões.
Qual o motivo desta previsão de crescimento?
São dois os motivos principais.
Primeiro: as políticas globais de descarbonização, que incentivam o uso de fontes renováveis, que geram a energia armazenada.
Segundo motivo: fontes intermitentes (que ocorrem quando há disponibilidade), como a solar e a eólica, ditam o ritmo atual de expansão do sistema elétrico, mas tendem a se estabilizar.