Gargalo em linhas de transmissão comprometem avanço da eletricidade renovável    

Gargalo em linhas de transmissão comprometem avanço da eletricidade renovável  

 

Governo promete liberar R$ 7,6 bilhões até 2029, mas valor é considerado insuficiente por especialista

Imagem: Agência Brasil / Delcy Mac Cruz

Os projetos de produção de eletricidade de fontes renováveis seguem firmes e têm condições de ampliar essas fontes na matriz energética de atuais 70% para até 90% do total. 

Mas há uma pedra no meio do caminho: o gargalo na infraestrutura de transmissão de energia. 

Muitos dos projetos e empreendimentos em implantação ficam em estados com matérias-primas abundantes, caso dos ventos no Rio Grande do Norte e do sol em regiões do Nordeste. 

No entanto, não adianta produzir eletricidade eólica (vento) ou fotovoltaica (sol) se não há como transportá-la até grandes centros consumidores. 

 

O que diz o governo federal?

Em evento realizado em fevereiro, Guilherme Zanetti,  diretor do Departamento de Planejamento e Outorgas de Transmissão do Ministério de Minas e Energia, foi enfático: a expansão da transmissão de energia elétrica continuará tendo papel central no setor elétrico. 

Segundo ele, o país vive “um movimento que será impulsionado agora pelo crescimento da demanda e pela necessidade de licitação de ativos que compõem contratos de concessão em fim de vigência a partir de 2030.”

“Esse cenário exigirá investimentos expressivos e reforça a importância da adoção de inovações tecnológicas no planejamento da expansão e modernização da rede de transmissão existente”, destacou. 

 

Sim, mas o que será feito?

Em janeiro último, o Ministério de Minas e Energia divulgou o Plano Operacional de Médio Prazo. Em resumo, ele irá liberar para o setor de energia elétrica no país R$ 7,6 bilhões no período de 2025 a 2029. 

O valor é suficiente? 

Não, esse volume de recursos é insuficiente para atender às necessidades completas do Sistema Elétrico Nacional, segundo o professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em entrevista a Ferraz Jr, no Jornal da USP.

“Recentemente, a Engie Brasil venceu um leilão para construir linhas de transmissão e subestações em cinco estados, com investimentos estimados em R$ 2,9 bilhões. Esse único projeto já consome uma parcela significativa do montante previsto, demonstrando que são necessários investimentos mais amplos e contínuos para modernizar e expandir a rede de transmissão”, afirma ele. 

 

Confira a seguir destaques da entrevista de Fernando Caneppele ao Jornal da USP:

 

‘Remédio’ para eliminar os gargalos: a ampliação e a modernização da rede de transmissão são fundamentais. 

“Isso permitiria a integração eficiente de novas fontes de energia, principalmente solar e eólica, que estão em franca expansão. Além disso, investimentos em tecnologias de gestão inteligente da rede são essenciais para melhorar a eficiência e a confiabilidade do sistema elétrico como um todo.”

 

Interconectar regiões: “É preciso o fortalecimento das interconexões entre as diferentes regiões do Brasil. Sendo um país de dimensões continentais, o equilíbrio entre oferta e demanda de energia requer uma infraestrutura robusta para o escoamento eficiente da eletricidade gerada.”

 

Avanço insuficiente de rede: a rede de transmissão de energia elétrica do Brasil tem mais de 180 mil km, incluindo vários trechos de diferentes tensões. Essa rede faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN).

O Plano Operacional anunciado prevê a construção de 1.260 km de novas linhas de transmissão e também a instalação de subestações. 

“São medidas que representam avanços importantes, mas não são suficientes para garantir a estabilidade da transmissão de energia no Brasil. Recentemente, produtores de energia eólica e solar enfrentam limitações na capacidade de entrega devido às restrições da rede de transmissão e tiveram que reduzir ou interromper a geração de energia. Esse problema, conhecido como curtailment, resulta em perdas financeiras significativas e afasta novos investimentos no setor.”

 

Nordeste exige atenção: a significativa mudança que está ocorrendo na matriz energética brasileira com o aumento das fontes eólicas e solares transforma a região Nordeste em exportadora de energia tanto para a região Norte como para a região Sudeste/Centro-Oeste, praticamente o ano inteiro. 

“A região Nordeste merece atenção especial, porque ela tem se destacado na geração de energia eólica e mais recentemente também na solar, com um avanço bastante importante. A infraestrutura de transmissão atual dessa região para as outras regiões do País não tem acompanhado esse crescimento. Isso resulta em limitações na capacidade de escoamento de energia”, afirma.